Marina Marandini Pompeu tem 22 anos e nunca foi reprovada na escola — mesmo que para isso precisasse fazer aulas de reforço no contraturno do colégio. Desde a infância, dançou balé, jazz e sapateado. Agora, quer ensinar crianças a dançar. Foi aprovada na faculdade de Educação Artística da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Precisou de amparo judicial para conseguir uma transferência para a Universidade Federal do Rio Grande (Furg).
Marina Marandini Pompeu tem síndrome de Down.
A jovem gaúcha faz parte de um grupo de portadores da doença que ingressaram no Ensino Superior. Dos 300 mil portadores da síndrome, segundo o médico Zan Mustacchi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas (Cepec), referência nacional no assunto, não chega a 15 o número que está em universidades. O Ministério da Educação não tem dados oficiais. Ano passado, Marina cursou o primeiro semestre em Curitiba. Mas a família, de Rio Grande, decidiu retornar ao Estado e, para conseguir a vaga na Furg, a mãe, Dóris Marandini, teve de recorrer à Justiça. — Agora, vai começar o desafio de verdade — brinca Marina. Segundo a pró-reitora de graduação da Furg, Cleuza Dias, nada havia a ser feito pela universidade. Por ser federal, só há duas formas de ingresso: por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) ou por reingresso. — Com a decisão da Justiça, estamos amparados para recebê-la — diz. No último processo seletivo, 19 alunos com deficiência foram aprovados na Furg. A universidade tem um Programa de Ações Inclusivas que os ajuda na adaptação. São oferecidos intérpretes de libras, monitores e reforços. — Com certeza, a Marina receberá atenção especial. Apesar de ter convicção que ela é tão inteligente que teria sido aprovada até mesmo na seleção normal — comenta Cleuza. Ser portadora de síndrome de Down nunca impediu Marina de levar uma vida parecida com a dos amigos. — Estudei inglês, espanhol e computação — aponta. Ao final do Ensino Médio, Marina mudou-se com a mãe e o padrasto para o Paraná, onde iniciou a faculdade de Artes. — Para mim foi um prazer tê-la conosco. Farei questão de acompanhar a trajetória dela - afirma a coordenadora do curso de Artes da UFPR, Juliana Azoubel.
Desafios, preconceito e vitória Quando descer da van, na segunda, Marina viverá mais um recomeço em seus intensos 22 anos. Desde o nascimento, enfrentou desafios. Nem ela nem a mãe desistiram. A professora sempre foi um escudo para a filha. Dóris criou a menina sozinha até os 13 anos. Divorciada poucos meses após o nascimento, não mediu esforços pela inclusão. Por três anos, a levava ao Rio, onde fazia fisioterapia. Aos quatro anos, o diretor da escola onde dava aula sugeriu a Dóris que levasse Marina ao colégio, para interagir com os alunos da mesma idade. Surpreendentemente, o preconceito partiu dos adultos. — Lembro que os pais foram reunidos e o diretor disse: "quem não estiver satisfeito pode tirar o filho da escola". Marina trocou de colégio anos depois. Teve ingresso negado em outras escolas. Para incentivar os estudos e adaptá-la ao ritmo, a mãe contratou uma professora particular. Também por isso, jamais leu o carimbo "reprovado" em seus boletins. — Meu sonho é me formar, dar aulas para crianças — planeja Marina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário